A língua húngara, ou magiar, como é conhecida na Hungria, é uma das línguas mais singulares e fascinantes da Europa. Diferente das línguas indo-europeias predominantes no continente, o húngaro pertence à família das línguas fino-úgricas, que inclui também o finlandês e o estoniano. Sua estrutura gramatical, vocabulário e pronúncia são bastante diferentes do que encontramos no português, inglês, espanhol ou francês. Para entender melhor as particularidades do húngaro, é essencial conhecer os eventos históricos que contribuíram para moldar essa língua ao longo dos séculos.
As Origens da Língua Húngara
A história da língua húngara começa com os povos fino-úgricos, que habitavam a região entre os Urais e o Volga, na atual Rússia, por volta do primeiro milênio antes de Cristo. Esses povos eram nômades e, gradualmente, começaram a se mover para o oeste, em direção à Europa Central. A língua húngara moderna é o resultado de muitos séculos de evolução e influências diversas.
O Período de Migração
No final do século IX, as tribos magiares, lideradas por Árpád, cruzaram os Cárpatos e se estabeleceram na Bacia dos Cárpatos, na atual Hungria. Esse evento é conhecido como “Honfoglalás” ou “Conquista da Pátria”. A língua falada por essas tribos era uma forma arcaica do húngaro, que foi sendo moldada pelas novas condições geográficas, culturais e políticas da região.
A Influência dos Povos Vizinhos
A localização central da Hungria na Europa fez com que a língua húngara estivesse em constante contato com várias outras línguas e culturas ao longo dos séculos. Esses contatos tiveram um impacto significativo na evolução do húngaro.
Os Eslavos
Quando os magiares chegaram à Bacia dos Cárpatos, encontraram várias tribos eslavas já estabelecidas na região. O contato próximo com os eslavos resultou na incorporação de muitos termos eslavos ao vocabulário húngaro, especialmente em áreas como agricultura, construção e vida cotidiana. Palavras como “tanya” (fazenda) e “szomszéd” (vizinho) têm origens eslavas.
O Cristianismo e o Latim
No ano 1000, o rei Estêvão I (Szent István) fundou o Reino da Hungria e adotou o cristianismo como a religião oficial do estado. Com a cristianização, o latim tornou-se a língua da igreja e da administração. Isso introduziu uma grande quantidade de vocabulário latino na língua húngara, especialmente termos religiosos, legais e administrativos. Palavras como “templom” (igreja) e “iskola” (escola) derivam do latim.
Influências Germânicas
Durante a Idade Média, a Hungria manteve estreitos laços comerciais e culturais com os povos germânicos. A partir do século XIII, especialmente após a invasão mongol, muitos colonos alemães foram convidados a se estabelecer na Hungria. Isso resultou na adoção de muitos termos germânicos, particularmente em áreas relacionadas ao comércio e à tecnologia. Exemplos incluem “ablak” (janela) e “kocsi” (carro).
O Domínio Otomano
No século XVI, a Hungria foi dividida em três partes devido à invasão otomana. A parte central do país ficou sob controle direto do Império Otomano, enquanto a Transilvânia tornou-se um principado vassalo, e a parte ocidental foi integrada aos domínios dos Habsburgos.
Influência Turca
O domínio otomano (1541-1699) deixou uma marca significativa na língua húngara. Muitos termos turcos foram incorporados ao vocabulário húngaro, especialmente em áreas como culinária, vestuário e administração. Palavras como “papucs” (chinelo) e “dolmány” (casaco) são de origem turca.
O Período dos Habsburgos
Após a expulsão dos otomanos, a Hungria foi integrada ao Império Habsburgo. Durante este período, o alemão tornou-se a língua da administração e da elite. No entanto, a língua húngara continuou a ser falada pela maioria da população.
O Movimento de Reforma Linguística
No final do século XVIII e início do século XIX, surgiu um movimento de reforma linguística na Hungria, liderado por intelectuais como Ferenc Kazinczy. Este movimento tinha como objetivo modernizar e enriquecer a língua húngara, tornando-a mais adequada para a literatura, ciência e administração. Muitos neologismos foram criados durante este período, e o vocabulário húngaro foi significativamente expandido e padronizado.
O Século XX e a Modernidade
O século XX trouxe muitos desafios e mudanças para a Hungria, incluindo duas guerras mundiais, mudanças de fronteiras e regimes políticos diversos. Cada um desses eventos teve um impacto na língua húngara.
Influência Soviética
Após a Segunda Guerra Mundial, a Hungria tornou-se um estado satélite da União Soviética. Durante o período comunista, o russo foi ensinado nas escolas e muitas palavras e expressões russas entraram no uso cotidiano, embora nem todas tenham perdurado após a queda do regime comunista.
A Era da Globalização
Com a queda do comunismo e a entrada da Hungria na União Europeia, a língua húngara, como muitas outras, passou a ser influenciada pela globalização. O inglês, em particular, tornou-se uma língua de grande influência, especialmente em áreas como tecnologia, negócios e cultura pop. Hoje, é comum encontrar palavras e expressões em inglês no vocabulário húngaro moderno.
Considerações Finais
A língua húngara é um testemunho vivo da complexa história da Hungria. Desde suas raízes fino-úgricas até as influências de povos eslavos, latinos, germânicos, turcos, alemães e russos, o húngaro evoluiu e se adaptou, absorvendo elementos de diversas culturas ao longo dos séculos. Este processo contínuo de adaptação e evolução faz do húngaro uma língua rica e diversificada, refletindo a história multifacetada do povo húngaro.
Para os estudantes de línguas, compreender esses eventos históricos não só enriquece o aprendizado do húngaro, mas também oferece uma janela para entender melhor a cultura e a identidade húngara. Aprender húngaro é, portanto, mais do que simplesmente adquirir uma nova habilidade linguística; é uma jornada através da história e das tradições de uma nação única no coração da Europa.